Puerpério

Dedico este texto às amigas queridas que acabaram de ter um  nenê, e às minhas alunas que acompanhei durante a gestação.

O puerpério, oh o puerpério! Que fase difícil que toda mãe enfrenta, e que tabu falar sobre isso ainda nos dias de hoje.
As emoções são sentidas todas de uma só vez, emboladas e embaraçadas, num mergulho profundo da alma. Tentando encontrar aquela mulher que já se foi, e que agora, tenta a todo custo se resgatar das profundezas do próprio ser.
Mas, como voltar a se reconhecer, se não se sabe ao certo quais são as próprias vontades e necessidades? Como fazer para se encontrar no meio de um caos instalado, onde não há espaço para si mesma, apenas para o novo bebê que possui demandas infinitas? Como se reconhecer novamente num corpo que se transformou? Onde foram parar o sonhos, os desejos, e tudo aquilo que se adiou, talvez, para sempre?
A sensação é de estar em uma redoma, à parte do mundo das pessoas "normais". Nessa redoma que cabe só a mãe e o bebê, na maior parte do tempo. Às vezes o pai, e quem sabe uma outra pessoa que auxilie minimamente com o que dá.
O choro que às vezes rola como um rio abaixo, e nem ao certo se sabe o porquê. O amor que chega a doer, junto com a dor de não se ter mais só para si! Misturado a isso, a dor física que se funde com um aperto no peito de estar perdida dentro de si.
Quem se permite sentir, sente que fácil não é e nem será, nunca mais. Mas nunca, é tempo demais para essa dor, e das profundezas surge, finalmente uma nova mulher, muito mais forte, muito mais certeira, como uma heroína que vencendo todos os obstáculos do caminho, desabrocha como uma flor.
Toda a fragilidade do começo, explode num urro profundo, como uma mãe- leoa, quase incansável! É hora de largar as armas, de simplesmente relaxar. Quando a alquimia com a cria está completa, quando já se criou um espaço comum entre os dois seres fusionados, começa mais tarde, a separação, ainda que não total.
A mulher agora, já se sente nova e habitando esse outro lugar.
O puerpério, é o momento de se perder, para depois se encontrar novamente. É tempo de viver a morte daquela pessoa que existiu antes do bebê nascer, e permitir que uma nova pessoa renasça. Junto com o bebê, nasce a mãe, e muito mais do que isso, nasce uma nova mente.
Cada uma vai encontrar sua nova versão, e vai viver o seu próprio luto de uma forma diferente. Mas, a aventura vale a pena, pois nada no mundo é capaz de te fazer amar tanto, ainda que doa no mesmo nível. Nada no mundo vai testar seus limites e te fazer superar tantos obstáculos internos.
Por isso, nessa hora, sinta-se abraçada por todas as mães do mundo! E quando tiver impossível de  lidar, entregue, e pense que isso também passa.