INDIA parte 4

Estou voltando aos poucos ao mundo real, se é que  essa tal realidade existe!!!!
Acho que vivi um ano em um mês, e o tempo realmente correu de outra forma por aqui. O tempo, meus pensamentos, minhas emoções e meus sentimentos. Horas de tormenta sem saber o que pensar e nem ao certo o que sentir, e horas de grande alegria, felicidade e principalmente muita gratidão por ter a oportunidade de viver tudo isso. Momentos em que meu estômago parecia que iria sair pelas orelhas e que meu coração simplesmente não iria aguentar!!! Haja respirações profundas!!!
Fui aos poucos percebendo que tudo isso estava exatamente em conformidade com a India, muita intensidade, e muito contraste!!! Aqui não tem mais ou menos, ou é tudo muito bom, ou muito ruim, muito sujo, muito cheiroso, muito sabor, sem gosto, muito pobre, muito rico, muito feio, muito bonito...ou as pessoas sao muito fofas, ou muito sem educação e mau humoradas e por aí vai.. E foi exatamente assim que me senti nesse mês!!! Em muitos momentos pensei e me questionei o que tinha vindo fazer aqui, e em outros tinha certeza que estava no meio de uma missão e que aqui era o único lugar em que eu poderia estar.
Agora fazendo uma retrospectiva, pude perceber que mesmo nas horas de aflição, achando que estava passando o maior perrengue do mundo...tudo deu magicamente certo. As pessoas certas apareceram para ajudar nas horas mais difíceis. Um exemplo, foi quando estávamos na estação de trem indo para Varanasi. Um tiozinho simplesmente nos adotou e nos conduziu para nosso vagão certo (achar o lugar certo no trem não é tão simples quanto em outros países)...quando descemos, um enxame de taxistas queriam nos levar ao hotel, e ele novamente apareceu, negociou o valor com o motorista e chegamos salvas ao nosso destino.
As horas no ashram me fizeram também refletir vários aspectos da minha vida, e por aquele momento, consegui encontrar um imenso contentamento em todos! E essas lições simplesmente seguirão comigo por muito tempo. As horas de mantra, os rituais, a Swami, o curso, as meditações, yoganidra, minha iniciação, todos os ensinamentos...dos mais elevados como o fluir da energia com a respiração... até o comer com a mão, tomar banho gelado de canequinha, desenvolver uma habilidade sem tamanho com o saco de dormir, estender a roupa no sol pra tirar o cheiro horroroso da viagem de trem e mais uma lista imensa que ficaria horas escrevendo.
O olhar de algumas pessoas também é algo que ficará presente ainda por algum tempo...
Ontem foi um dia bem especial...estávamos em Varanasi e fomos até o Ganges fazer o passeio de barco. Vimos o sol nascer lindoooo!!!! Muitas pessoas rezando e se banhando no sagrado rio! Minha vontade era segurar aquele momento para que ele demorasse muitas horas! Comecei a desesperadamente tirar milhões de fotos, até me tocar que seria impossivel registrar minha emoção em alguma delas!!
Fomos ao templo de Durga, e tenho certeza que recebi muitas bençãos!!!
Com certeza chegar até aqui é quase um desafio, não simplesmente uma viagem...talvez uma viagem mais interna!!! Mas estou muito feliz em voltar pro meu cantinho com as pessoas queridas e com a bagagem lotada de energia positiva, meu nome, meu mantra, de muita coisa que aprendi e que preciso digerir, e de INCENSO!!!! Acabei de comprar muitos. Caí de cabeça nas comprinhas pra finalizar a viagem, algo bem mundano e delicioso de fazer! Estou voltando devagar pro mundinho pé no chao...hotelzinho gostoso, e um bom descanso antes de pegar o aviao amanhã a noite.

Varanasi - Ganges

Varanasi- Ganges


INDIA parte 3

Depois de uma dia lindo que eu tive ontem, quando finalmente me sentei na internet, apareceu um rato na prateleira de cima, acabando com meu humor e com o tempo que eu tinha. Saí correndo com vários indianos olhando com cara de riso pra mim...saí sem pagar meus 5 minutos, e com a cabeça bombando...tentando lidar com tantos opostos.

Eu canso de saber que a natureza da mente não é estável, mas isso aqui na India se multiplica por mil!!! Talvez por isso, que tantas técnicas de equilíbrio mental tenham surgido daqui. Ontem foi um dia especial que terminou com essa aparição do rato!!!
Andamos por um vilarejo rural, e fomos em um templo com um aspecto muito bucólico (Vietnan Temple), um bosque ao redor...sai de lá com minha energia renovada..e seguindo as dicas do meu irmão comi um paneer pakora que ele sempre fala e mais um monte de comida gostosa..encontramos um rio com uma margem deliciosa, onde tiramos muitas fotos...e toda essa "vibe" se derreteu com o rato!!! Devo estar exagerando, mas aqui parece que você vai entrando e saindo de portais...uma hora lindos e outra hora bem negros...Tenho certeza que no fundo do poço há uma cama elástica.
Estou indo hoje pra Varanasi de trem, e já sei como são os trens aqui na India, isso me dá um pouco de cansaço...Mas, finalmente chegarei a um hotel...estou precisando muito deixar esse meu lado neanderthal,  tomar um banho quente e demorado e dormir em uma cama macia...Muitas coisas boas e especiais aconteceram e estou imansamente grata por todas elas... mas devo confessar que os perrengues foram muitos tb!!!

bosque ao redor do Vietnan Temple


INDIA parte 2

Fiquei com muita vontade de escrever mais...estou profundamente tocada hoje! O que me deixa um pouco frustrada é a dificuldade de tentar me expressar em palavras...mas vamos lá.
São tantos insights e um contato tão grande com um lado que passa longe do racional, que eu simplesmente não entendo como o fato de simplesmente estar em um país possa causar isso.
A miséria e a pobreza são gritantes por aqui, mas os olhos das pessoas é algo que toca fundo no coração...não me sinto ameaçada com isso, mas meio de mãos atadas, por nao ter nada a fazer, sempre lembro e relembro as palavras da Swami Satsangi " o que a gente é incapaz de mudar, a gente aceita..." E é assim que ando levando meus dias por aqui ,vendo toda essa gente que sofre. Apesar disso me sinto completamente em casa de alguma forma, uma familiaridade impressionante com o lugar.
Todos os dias aqui em Bodhgaya temos a oportunidade de meditar, já que estamos em um semi-monastério budista, e as experiências são diferentes a cada dia, apesar de eu só estar ha dois dias aqui. Parece que tudo vai passando por um ciclo...primeiro Delhi, depois Rikhia e Munger nos ashrans e agora aqui. Sempre tendo a lado espiritual bem presente...e esse lado espiritual faz a gente entrar de alguma forma com um lado inconsciente...e por estar tão distante de casa, a gente acaba vendo a nossa própria vida de uma outra forma. É como se estivéssemos assistindo a nossa própria vida, estando em uma outra realidade!!! ...eu disse que teria dificuldades em me expressar...
Às vezes me sinto em outro tempo por aqui, mas em outro tempo do mundo, tipo séculos atrás...

INDIA parte 1

Porta da sala de prática
Enquanto estive na India entre os dias 20 de dezembro de 2010 e 18 de janeiro de 2011, enviei alguns emails para amigos e familiares, e faço questão de compartilhar aqui:


Salve, salve India que nos inspira a cada momento...no riso e no choro, na prece calada, na angústia apertada, nos olhos de lágrimas, nas palavras sábias, no incenso, na vela, na buzina ou no mantra. Salve salve India de olhares compassivos, de gente simples, de alegria expressa no sorriso humilde!
Sento na frente do computador, depois de quase 20 dias de India, e não sei como começar a contar as experiências até aqui. Tentarei fazer um resumo, mas qualquer tentativa será limitada. A India não é algo que se experencia com o racional, mas com o coração.
Chegamos em Delhi ( eu e Mari, minha amiga, professora e companheira de viagem) e tive a sensação de estar chegando em casa, meu sorriso indo de orelha a orelha e aquele cheiro de India, que só sabe quem já esteve aqui um dia. Encontramos o Anderson e o Fernando (meus professores e amigos queridíssimos) em Delhi em um hotel delícioso, e passamos dois dias passeando e comprando algumas coisinhas para a viagem que nos esperava. Pegamos o trem com destino a Rikhia, que durou 22 horas...senti a India entrar nos meus poros, no meu estômago...um mix de alegria e desespero, um mix de angústia e contentamento!! Foi duro, confesso, mas chegamos. Pegamos um táxi até a Bihar School of Yoga , minha cabeça explodindo...e com as malas ainda no chão, fomos direto para o começo do curso de Kriya Yoga e Tattwa Shuddhi...muitas pessoas de muitos países diferentes e eu só pensava em descansar. Felizmente nos acomodaram em um quarto com banheiro, só eu e a Mari. Ufaaaa. Tomei um banho gelado, sendo que estava muito frio, e naquela altura eu ainda não tinha prática com a canequinha e com a água gelada...mas foi a melhor coisa do mundo e dormi. Dia seguinte já estava tudo bem, o curso começou de forma bem interesante, a professora era uma swami da Austrália (Sw. Yogakhanti), com uma calreza de pensamento e um inglês brilhante!!! Comecei a ter que aprender a comer com a mão...Não, eu não levei talheres e desenvolvi essa habilidade...o mais difícil era arroz com molho, mas dava tudo certo!! Nesse periodo, tivemos que fazer Karma Yoga, o yoga da ação consciente, onde nesse contexto você exerce seva,um trabalho desprovido de interesses pessoais. Minha função era limpar, com mais um monte de gente do curso, a sala onde tínhamos as aulas. Um poeira indiana nos tapetes e cobertores sem fim...passava a vassoura com um cabo minúsculo, e depois o pano molhado no chão, com a mão, no maior estilo indiano de faxina. No primeiro dia, o relacionamento com pessoas de outras culturas foi um pouco tenso...mas tentei me manter centrada. Nos outros dias, o clima estava bem melhor e as pessoas sorridentes.
Bom, o curso foi mais do que ótimo...e seria dificil tentar explicar a experiência profunda que tive com a vivência de uma das técnicas.
Bom, não posso deixar de falar que tive a oportuna experiência de conhecer a Swami Satsangi. Essa experiência foi riquissima e muito inspiradora. Apenas a sua presença e suas palavras já faziam meus olhos cheios de lágrimas. Palavras que tocaram profundamente meu coração, e de tamanha simplicidade e clareza se tornaram grandiosas. A energia transbordante que ela transmite é algo que mais uma vez, ficaria bem difícil de expressar em palavras. Fico muito feliz que ela estará em agosto no Brasil, e acho que seria uma oportunidade de todos vocês conhecerem. Recebi também uma iniciação com meu mantra e meu nome (Shantam). O nome quer dizer muito sobre a essência da pessoa em questão, mas algo que ainda precisa ser trabalhado. O meu nome no caso significa algo como a " Paz interna".
Bom, depois de tudo isso...Com o coração explodindo, fomos a Munger, onde está instalado um outro ashram da Bihar School. Lá o seva (trabalho) era um pouco mais ameno, mas a quantidade de pessoas no ashram era muuuuuito maior. Ficamos com dez pessoas no quarto, banheiro no corredor e água gelada no banho e não podíamos sair do ashram. Nada impossível de ser vivido, mas que em muitos momentos me faziam resgatar uma força interna guardada para "momentos especiais". Como era um Yoga Satsang Week, tivemos a oportunidade de praticar todos os dias "Satyananda Yoga", e participar de vários satsangs com o Swami Niranjan. Experenciei seus ensinamentos muito mais racionalmente do que emocionalmente, e suas palavras passavam antes pelo meu intelecto, uma outra forma de entendimento.
Senti um contato muito grande com meu lado sombra, mais uma vez um mix de alegria, e algumas vezes um irritação profunda e ao mesmo tempo um insight observando o quanto amo muito a vida que eu tenho e todos ao meu redor!